O Grito Nacional – O Surgimento do Partido Chega

Chega

O regime democrático português, por ter nascido fruto de uma revolução, teve sempre bastante dificuldade em lidar com partidos de direita.

Nos anos 70, nos primórdios da democracia, a direita teve grande dificuldade em estabelecer-se, tendo vários partidos sido inclusivamente ilegalizados. É irónico, não é? Mas é verdade.

A direita começava num Partido Social Democrata e terminava num partido cujo nome é: Centro Democrático Social – que tinha a intenção clara de ficar rigorosamente ao centro político. Por outro lado, no espetro oposto, toda a liberdade foi dada para a formação de partidos socialistas, marxistas e trotskistas.

Por outro lado, o novo regime quis oferecer essencialmente três coisas aos portugueses: Europa, Saúde e Educação. Pela Europa, Portugal foi-se tornando cada vez mais periférico e caminha a passos largos para se tornar o país mais pobre da Europa. Pela Saúde e Educação, nunca como hoje tantos portugueses recorreram a seguros de saúde, fugindo ao Serviço Nacional de Saúde, e nunca tivemos tantos jovens a abandonar o ensino público para frequentar o ensino privado.

Simultaneamente a tudo isto, Portugal começou a viver o maior movimento demográfico da sua História em quase 900 anos de existência. E a classe política, de alguma maneira, desligou-se disso – ou pior: promoveu-o. Até ao século XXI, o maior movimento de deslocação de pessoas para Portugal aconteceu precisamente nos anos 70, com o fim do império. Estima-se que tenham regressado cerca de 500 mil pessoas. Contudo, entre 2015 e 2025, entraram em Portugal mais de 1 milhão e 500 mil imigrantes. Embora ainda não haja dados oficiais, estima-se que em Portugal residam cerca de 2 milhões de imigrantes – cerca de 20% da população.

É importante realçar que hoje olhamos com grande reserva para os dados oficiais, porque estes correram sempre atrás do prejuízo e nunca foram capazes de nos dar as informações mais atualizadas e credíveis. Até por aqui se compreende o descrédito das instituições.

O CHEGA nasceu em 2019, no fundo, como o reflexo de todo este contexto nacional. André Ventura começou a sua carreira política com uma candidatura à Câmara Municipal de Loures pelo PSD, em 2017. Nessa candidatura, Ventura teve a coragem de falar abertamente sobre o problema do município com a comunidade cigana, com a falta de segurança, a pobreza e a corrupção. Apesar de serem problemas que todos reconheciam existir, Ventura tornou-se o primeiro a falar deles de forma clara. Esse facto permitiu, desde logo, que a sua candidatura tivesse um dos melhores resultados de sempre do PSD em Loures – um município tradicionalmente socialista e comunista.

O discurso de Ventura causou um profundo mal-estar dentro do PSD, e tudo isto acabaria por levar à sua saída do partido e à fundação de um novo: o CHEGA. Ventura compreendeu que o resultado de Loures lhe mostrava um país profundamente indignado com o estado das coisas, que não se sentia representado nas instituições e que, de certa forma, estava marginalizado. Havia um desfasamento entre as elites e o povo.

Não só havia espaço para um novo partido político, como havia essa necessidade. Praticamente metade do país não votava. Não deixa de ser curioso que, desde o surgimento do CHEGA, a abstenção em Portugal tenha vindo a diminuir progressivamente. Se em 2019 a abstenção se situou nos 52%, em 2025 esse número baixou para os 35%. É impressionante.

Mais do que isso, o aparecimento do CHEGA surgiu num momento em que o centro-direita apresentava resultados francamente medíocres. Em 2019, no ano em que o CHEGA elege pela primeira vez um deputado para a Assembleia da República, o centro-direita (PSD e CDS) fica-se pelos 32%. Foi o pior resultado de sempre da soma de todos os partidos à direita do PS.

A entrada de André Ventura no Parlamento acabaria por ser avassaladora. Inaugura-se em Portugal o famoso cordão sanitário e tenta-se negar por completo a presença do CHEGA no sistema democrático português. Ainda pouco se percebia do eleitorado do partido e o fenómeno era frequentemente comparado com outros partidos do mesmo espetro político, como o Vox.

De alguma maneira, as eleições de 2022 acabariam por ser determinantes neste sentido. O CHEGA elege 12 deputados, torna-se a terceira força política, mas o PS consegue uma maioria absoluta. Nesta fase, compreende-se o eleitorado do partido em três segmentos distintos: a sul do Tejo, assistíamos a uma transição de eleitores do Partido Comunista para o CHEGA; nas periferias e subúrbios de Lisboa e Porto, onde as populações experienciavam insegurança, os reflexos das políticas migratórias e a precariedade, essas pessoas passaram a concentrar o seu voto no CHEGA; e, por fim, nos conservadores do Norte do país, que estavam reféns do CDS – que, entretanto, desapareceria do Parlamento.

A partir da eleição de 2022, o partido inicia uma afirmação prodigiosa nas redes sociais, transformando por completo a comunicação política em Portugal. Torna-se líder absoluto no Facebook, Instagram, YouTube e TikTok. Os números de filiações disparam, e o ano de 2023 traz uma certa aura de popularidade ao CHEGA. Passa a ser visto como a verdadeira oposição à maioria absoluta do PS. A liderança do PSD era demasiado fraca e, nesse sentido, André Ventura passou a ser considerado como o líder da oposição em Portugal.

O governo de António Costa acabaria por ser abalado por uma série de escândalos de corrupção, o que levaria a eleições antecipadas em 2024. Mais uma vez, André Ventura aparecia como o político capaz de fazer frente à teia de corrupção instalada pelo PS. O socialismo em Portugal vigorava há mais de 30 anos. O PS estava completamente instalado no aparelho de Estado e na comunicação social, e a extrema-esquerda tinha um controlo assustador sobre o meio universitário.

Seriam nestas eleições que se começaria a perceber que o CHEGA liderava no voto jovem. Os jovens compreendiam que o país não tinha um futuro para lhes oferecer. Grande parte dos licenciados em Portugal procurava trabalho fora do país. Tornava-se impossível comprar casa, construir família ou viver com estabilidade. Ou seja, Portugal deixara de ser a casa dos portugueses. Todo este cenário assustador faria com que muitos passassem a ver no CHEGA o único capaz de colocar o dedo na ferida.

Nas eleições legislativas de 2024, o CHEGA consegue eleger 50 deputados. O PSD e o CDS vencem as eleições, mas com apenas mais 2 deputados que o PS – 80 deputados. Não foi o centro-direita que tirou votos ao PS: foi o CHEGA. Pessoas que votaram PS em 2022 passaram a votar CHEGA em 2024. A abstenção baixava consideravelmente e estávamos perante algo que muitos nunca tinham presenciado: o fim do bipartidarismo. Apareceu um partido que disputava o domínio do PS e do PSD. Mais curioso do que isso, o CHEGA elegia 50 deputados nos 50 anos do 25 de Abril – a revolução que deu origem ao atual regime. Tudo isto tinha um simbolismo importante.

Em 2024, Luís Montenegro tornou-se Primeiro-Ministro pelo PSD e, apesar de não ter maioria política, tentou governar sozinho. Conseguiu aprovar o Orçamento do Estado com o PS, mas novamente, tanto o PSD como os socialistas estavam envolvidos em vários escândalos de corrupção. Isso faria com que os portugueses fossem chamados novamente às urnas em 2025. Foi a quarta eleição em seis anos. Durante este processo, não houve cansaço por parte dos portugueses. Pelo contrário: como já vimos, a participação aumentou.

Foi nestas eleições que o CHEGA igualou o número de deputados do PS – 58 – aguardando agora a contabilização dos círculos eleitorais fora de Portugal. O CHEGA ultrapassou os 22% e venceu nos círculos do sul do país, destacando-se a vitória em Setúbal – uma região vista como subúrbio de Lisboa e que sempre foi domínio do Partido Comunista e do Partido Socialista.

Com grande probabilidade, veremos o PSD a aproximar-se do PS. O CHEGA liderará a oposição. Passou de um grito para um movimento político nacional que terá impacto real no futuro do país. Conseguiu arrastar tudo à sua volta: destruiu a extrema-esquerda, derrotou o PS e passou a competir diretamente pelo primeiro lugar.

Estamos a assistir a uma revolução em Portugal que não deixará pedra sobre pedra neste sistema político. O CHEGA representa o grito do português comum – daqueles que pagam impostos, que não conseguem ter acesso a serviços públicos de qualidade e que veem as suas vidas a andar para trás há mais de 20 anos. Que sofreram com a crise das dívidas em 2008, com a troika em 2011, com a crise migratória em 2015, com a COVID em 2020 e com a inflação em 2022.

Todo esse povo despertou – e ninguém o vai conseguir parar!

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